8.3.07

Babel

Quando cheguei de férias tinha 5 mensagens tuas no gravador de chamadas. Percebi-te com dificuldade. Apenas urgência na voz e um inglês muito mau.
Nas últimas duas semanas voltaste à carga e eu fui-me assustando. Caramba, tantas mensagens, tanta vontade de te encontrares comigo... estranho!
Finalmente apanhaste-me perto do telefone. A conversa foi surreal porque falas de um modo ininteligível, mas lá entendi o teu nome e qualquer coisa como 'prova língua pôrtuguêssa'. Sugeri que me explicasses melhor o que querias via mail, soletrei-te o meu nome, apontei o teu mail, escrevi-te e veio devolvido.
No dia seguinte insististe. Tentei falar mais devagarinho, pedi-te o mesmo e conseguimos, muito esforçadamente, combinar um encontro.
Bateste-me hoje à porta do gabinete e parecias nervoso qb. Sentaste-te, sentei-me e passo a passo lá fui entendendo o que querias: fazer o exame internacional de português. Muito bem, as datas são estas, o preço aquele, há vários níveis de exame, as inscrições começam mais lá para o verão e é preciso o número do passaporte e... Passaporte não tenho. Não? Puxas da carteira e mostras-me um cartão com a tua fotografia: My refugee card. Emudeço. Passas ao seguinte: My mrs... Não sei de onde vens, não conheço a tua história, mas estás sentado à minha frente a esforçares-te por te fazeres entender numa língua que não é claramente a tua, a pedires-me para fazer um exame de outra língua que não nasceu contigo, porque queres ser 'citátão português'.
Há dias em que me sinto mesmo pequenina.

3 comentários:

joaninhalibelinha disse...

Bolas! é a única coisa que me ocorre.

clarisca disse...

tens a sorte de te ter batido à porta a oportunidade para mudares um bocadinho o mundo...

Invisible bastard disse...

inacreditável... simplesmente isso